O clima não anda favorável para um setor crucial na economia brasileira que depende dos humores do tempo. A produção agrícola de 2023 foi excepcionalmente boa — impulsionando o PIB —, mas a deste ano pode sofrer com a combinação de El Niño (aquecimento das águas na região equatorial do Pacífico que eleva temperaturas no mundo) com a aceleração de mudanças climáticas.
O governo e consultorias do setor preveem queda de até 8% na safra, com oclima entre as causas. Flávio Roberto de França Junior, economista da Datagro Grãos, explica que soja e milho devem ser os mais afetados neste ano, quando a instabilidade climática se soma à queda do preço dos grãos no mercado mundial, o que agrava a redução dos ganhos no campo.
“O agro é uma indústria a céu aberto e precisa de muito investimento para se manter competitivo”, observa.
CLIMA JÁ MUDOU
Para o especialista no impacto das mudanças climáticas no agronegócio Eduardo Assad, ex-pesquisador da Embrapa, professor da FGV Agro e diretor da consultoria ambiental Fauna, não importa se o ano é de El Niño (em curso), La Niña (resfriamento do Pacífico com queda de temperaturas, que pode ocorrer este ano) ou neutro: haverá mais extremos, como os que vemos agora, porque o clima já mudou.
“Não há surpresa. Há 30 anos alertamos para isso. Mas é conveniente falar só de El Niño em função de seguros. Além disso, 40% do agro brasileiro acha que não há mudança climática, quer entrar no mercado de carbono sem saber para que serve. Há avanço no discurso, mas é lento e em descompasso com a realidade”, frisa Assad.
Ele finaliza um estudo indicando que a chamada safrinha de milho poderá sumir com a diminuição da estação chuvosa. Segundo ele, sem inovação tecnológica, milho, soja e café serão as culturas mais vulneráveis a mudanças no clima. E o Sul será a região mais suscetível, sobretudo, devido às secas.
O aumento do período seco também pode inviabilizar a expansão das plantações do Vale do São Francisco, no Nordeste, que já dependem de irrigação. Desta também dependem umbilicalmente as culturas de hortaliças no país.
Fonte: O Globo
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