Nas últimas 14 safras, as exportações de milho e de soja pelos portos do chamado Arco Norte aumentaram 757%. Esse desvio de rota para os portos que ficam acima do paralelo 16 — que inclui as regiões Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste e do Sudeste — eliminou grandes distâncias,reduziu custos e melhorou preços pagos aos produtores.
A grande seca do ano passado, no entanto, mostrou que a estrutura para essas saídas ainda não está pronta. Os rios baixaram, e as dificuldades de navegabilidade fizeram com que, pela primeira vez desde 2019, a saída de soja e de milho pelos portos da parte de cima do país ficasse abaixo das do porto de Santos (SP).
Devido à importância que as novas fronteiras agrícolas assumiram os últimos anos, não se esperava mais que o volume de Santos voltasse a superar o dos portos do Norte e Nordeste, afirma Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística Infraestrutura da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Há um período do ano em que a navegabilidade pelos rios fica mais difícil,mas em 2023 o efeito da seca foi muito forte.
Elisangela Diz que estão sendo feitos investimentos privados na ampliação do sistema portuário da região, mas os maiores gargalos são os acessos. Entre os rios importantes nos novos caminhos para as exportações grãos pelo Arco Norte estão Madeira, Tapajós e Amazonas.
A melhora dos acessos até esses pontos é fundamental, segundo a assessora técnica da CNA. Em 2022, saíram pelos portos Arco Norte 52, 3 milhões de toneladas de milho e de soja (inclui porção pequena de farelo), 12% a mais do que o volume exportado pelo porto de Santos. No ano passado, porém, a atividade portuária de Santos atingiu 61,8 milhões de toneladas desses dois produtos, superando volume escoado pelo Arco Norte.
A importância dos portos acima do paralelo 16 cresce, uma vez que a produção se deslocou para essas regiões nos últimos anos. Segundo dados da CNA, as colheitas de soja e de milho renderam 253% a mais nessas regiões nas últimas 14 safras, um percentual bem acima dos 71% obtidos no Arco Sul.
No ano passado, 69% da produção saiu das regiões que ficam acima do paralelo 16. As exportações seguem a mesma tendência, ao subir de 7,2 milhões de toneladas, em 2009, para 61,7 milhões, no ano passado. Em 2023, saíram pela décima parte do país 34% das vendas externas desses dois produtos, acima de 16,6% de 2009. Nos portos do Arco Sul, a participação recuou de 83,4% para 66% no período. O Brasil tem um ritmo acelerado de crescimento no setor de grãos.
A produção teve evolução de 7,2% na taxa média das últimas 14 safras, adicionando todo ano um volume extra de 12,8 milhões de toneladas no mercado. Esse crescimento vem basicamente das áreas de produção que estão acima do paralelo 16, responsáveis por 10,1 milhões de volumes acrescidos anualmente. Os números de exportação, no entanto, mostram uma realidade que precisa ser mudada.
O crescimento da produção se dá nas novas fronteiras, mas a saída de produtos pelos portos dessa região aumenta em apenas 3,9 milhões de toneladas por ano. O potencial de exportação já está próximo do limite.
O volume dos portos do Arco Sul cresceu 6 milhões anualmente. A saída de soja e de milho pelo complexo portuário do Arco Norte superou a registrada pelo porto de Santos pela primeira vez em 2020, tendência que se manteve nos dois anos seguintes.
Em 2022, os portos da região chegaram a superar 5,5 milhões de toneladas o volume de Santos, mas, no ano passado, ficaram 100 mil toneladas abaixo.
Em 2013, essa diferença era de 15,3 milhões de toneladas a favor de Santos. Dois conjuntos portuários se destacam no sistema Arco Norte: São Luís,Itaqui e PDM, no Maranhão,e Belém e Barcarena, no Pará. O primeiro movimentou 20,2 milhões de toneladas de soja e milho em 2023, e o segundo, 19,1 milhões. Os portos do Arco-Norte são importantes não apenas para a saída de grãos mas também para a entrada de fertilizantes, uma vez que há um crescimento contínuo da área cultivada na região.
As importações de fertilizantes pelos portos do Arco Norte já se igualam às de Paranaguá, até então principal entrada. No ano passado, ambos receberam 10 milhões de toneladas,conforme o boletim logístico da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Fonte: Folha de São Paulo
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