A agenda de transição de matriz energética e descarbonização vem avançando no Brasil nos mais diversos setores, movimentada tanto pelas demandas regulatórias desdobradas da Agenda 2030 como também pela demanda de consumidores – como apontou o relatório “2020 Deloitte Resources Study”, publicado pela consultoria.
De acordo com o relatório, quase 75% das empresas americanas consultadas afirmaram que os seus consumidores demandam o uso de energia de fontes renováveis na cadeia produtiva. E, claro, a logística tem um papel relevante nesta cadeia, com grandes oportunidades de redução da pegada de carbono na indústria.
Em linha com a demanda, a Agência Infra noticiou ontem que os portos brasileiros deverão ter uma agenda de descarbonização, com metas e linhas financeiras específicas para financiar a transição energética. A informação foi compartilhada pela secretária-executiva do Ministério de Portos e Aeroportos, Mariana Pescatori, durante evento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre ESG no setor público.
Em antecipação às políticas, diversos portos brasileiros já vêm se movimentando em torno da agenda de descarbonização, compartilhando suas metas e agendas setoriais, como a anunciada “Aliança para a Descarbonização de Portos Brasileiros”, inspirada no movimento de portos espanhóis “Alianza Net Zero Mar”. Em termos de alternativas ao combustível fóssil, o Brasil vem crescendo exponencialmente no investimento em tecnologias verdes voltadas para a transição energética. Além de ser o segundo maior produtor mundial de etanol de cana e milho, o Brasil vem investindo cada vez mais em um recurso pouco explorado – o hidrogênio verde (H2V).
Conforme divulgado na COP28 pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, no estande da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o governo aposta na produção de H2V para que o País lidere a indústria de transição energética. Quando produzido a partir de uma fonte de energia 100% renovável, como a solar e a eólica, o hidrogênio passa a ser uma fonte de energia totalmente limpa, uma vez que é produzido a partir da eletrólise da água e, após sua queima, o subproduto gerado é novamente,apenas,água.
Observando os movimentos do setor público e privado, é importante que as agendas caminhem de forma concomitante, de maneira que o planejamento de transição energética dos portos seja complementado pelas políticas públicas de investimento e incentivo em infraestrutura energética.
Acompanhando esse movimento, já é possível observar a priorização de recursos de Fundos de Investimento (FIs) de impacto para o financiamento de projetos de transição energética, em especial envolvendo energia 100% renovável.
Considerando a perspectiva de o setor dispor de linhas de financiamento públicas também para projetos dessa natureza, além de fundos internacionais de impacto que direcionam recursos para o Brasil, abre-se também a possibilidade de estruturas novas de financiamento de projetos, como o financiamento misto (Blended Finance).
O setor portuário, assim como os demais, têm o desafio de se integrar à agenda global de transição energética. E ao que tudo indica, ele vem já se movimentando e se antecipando às políticas públicas e regulatórias que devem ser estruturadas ao longo do processo.
Embora o desafio seja grande, as oportunidades e possibilidades do mercado energético no Brasil são amplas, e o mercado financeiro institucional está atento a essas oportunidades.
Com a criação de políticas públicas para a transição energética, em especial de H2V, e a colaboração entre governo, indústria e sociedade civil, o setor portuário terá ambiente promissor para efetivar suas metas de descarbonização – colaborando como planejamento estratégico governamental incentivando a energia verde.
Fonte: A Tribuna Jornal Santos
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