Para Thyssen, Brasil pode ser destaque em hidrogênio verde

Uma das poucas fornecedoras de tecnologias para a produção de hidrogênio verde (H2V) em escala industrial no mundo, a alemã Thyssenkrupp avalia que o Brasil poderá alcançar protagonismo global nesse mercado e tornar-se polo de produção não só dos insumos mas de equipamentos para essa indústria, ainda nascente. 


A disponibilidade de energia renovável, segundo o presidente da multinacional para a América do Sul, Paulo Alvarenga, habilita o país a essa posição. Mas será preciso incentivar a transição para o “H2V”, ainda mais caro que os combustíveis fósseis, para que a indústria possa finalmente decolar. 


“Deve haver incentivos para os primeiros projetos, talvez os primeiros 7 ou 8 gigawatts (GW)”, diz. Via Thyssenkrupp Nucera,o grupo alemão acertou fornecimento de três eletrolisadores para produção de amônia e hidrogênio verde à brasileira Unigel, dona do primeiro projeto em escala comercial do país, com capacidade total de 60 megawatts (MW) na primeira fase e investimento inicial de US$ 120 milhões. A crise financeira enfrentada pela petroquímica, porém, paralisou o projeto. 


“Para se produzir hidrogênio e amônia verde, é preciso ter uma indústria que possa fornecer os equipamentos. Estou convencido de que o Brasil poderia ser uma base para fornecer a estrutura industrial”, diz o executivo. 


Conforme Alvarenga, a Thyssen tem acompanhado as discussões para a instituição do mercado regulatório do hidrogênio no país. Contudo, os projetos de lei que estão em discussão no Congresso Nacional não contemplam mecanismos que atraiam,de fato, novos investimentos e o desenvolvimento da indústria local. Além da concessão de incentivo, o executivo avalia que, numa fase inicial, a exigência de percentual mínimo de consumo de amônia e hidrogênio verde, como aconteceu com o biodiesel, assegura a formação de mercado e levaria a novos investimentos.


 “O custo dos incentivos iniciais é uma fração pequena do impacto econômico que os investimentos trarão”, alega. 


Um estudo da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV) indica que os incentivos poderiam induzir investimentos bilionários, com impacto fiscal positivo de R$ 70 bilhões até 2030. 


A indústria química, uma das principais investidoras na produção de hidrogênio verde, também defende que os projetos de lei 2.308/2023 e 5.816/2023 passem por “correções” para viabilizar o mercado. 


No ano fiscal encerrado em setembro, a operação da Thyssenkrupp na América do Sul alcançou faturamento de R$ 5 bilhões, alta de 2% na comparação com o exercício anterior. O crescimento aparentemente modesto reflete a conclusão da venda do negócio de mineração no segundo semestre de 2022, reduzindo o tamanho da operação regional. Sem considerar os resultados do negócio vendido, o faturamento teria crescido 18%. A saída da área de soluções para mineração, conforme o executivo, está alinhada à estratégia de foco em descarbonização. 


Com três áreas de atuação no Brasil, a multinacional viu os negócios da divisão automotiva crescerem 5%, em linha com o ritmo da produção local de veículos, assistiu salto no faturamento da área de Defesa, à medida que avança o projeto de construção de quatro Fragatas Classe Tamandaré (CFT) para a Marinha. C


onforme Alvarenga, agora o projeto entra em fase de aceleração, com alguns marcos à frente: em junho, a primeira embarcação será lançada em água para finalização da montagem, e entrega no início de 2025. A segunda fragata já começou a ser montada. A terceira área, de tecnologias para descarbonização,é mais nova e, portanto, a que menos contribui para a receita consolidada. Mas a multinacional acredita que esse será um importante alavancador de negócios. “Queremos navegar na transformação para o verde”, diz. 


Na Alemanha, onde ainda tem operação siderúrgica, a Thyssen já está substituindo o carvão pelo hidrogênio verde em um primeiro alto-forno.


Fonte: Jornal Valor Econômico

Foto: Reprodução 


Posso ajudar?